terça-feira, 19 de agosto de 2008

Furacões na Cidade... de Deus - parte II

Continuando o capítulo 11 do livro Os Jesuítas, de Malachi Martin. Colocarei, futuramente, algumas imagens modernas sobre os fatos análogos aos aqui neste texto referidos, para demonstrar que longe de tais afirmações serem problemáticas ou historicamente pontuais, tornaram-se uma perigosa permanência:

"Quando a violência dos ventos passou e o novo dia amanheceu, as pessoas olharam à sua volta e descobriram que, de repente, o latim universal da missa havia desaparecido. Ainda mais estranho: a própria missa romana desaparecera. Em seu lugar havia um novo rito que se parecia com a missa antiqüíssima como [na mesma proporção em que] um barraco se parece com uma mansão palaciana. O novo rito era dito numa babel de línguas, cada qual dizendo coisas diferentes. Coisas que pareciam anticatólicas. Que apenas Deus, o Pai, era Deus, por exemplo; e que o novo rito era "uma ceia comunitária", não uma re-apresentação da morte de Cristo na Cruz; e que os padres não eram mais sacerdotes de um sacrifício, mas ministros à mesa servindo a convidados numa ceia comum de amizade.

É verdade que o papa que presidia tais enormidades de aberração doutrinária, Paulo VI, tentou recuar um pouco em direção à primeira e única Missa Romana. Mas era tarde demais. O caráter anticatólico daquele novo rito persistiu.

A devastação daqueles furações não tinha parado ali. Igrejas e capelas, conventos e mosteiros tinham sido despojados das suas imagens. Altares de sacrifício tinham sido removidos, ou pelo menos, abandonados, e em vez disso tinham diso colocadas em frente ao público mesas de quatro pés, como se preparadas para uma ceia agradável. Sacrários foram retirados, juntamente com a crença fixa sobre o sacrário de Cristo como a essência da Missa. Paramentos foram modificados ou postos inteiramente de lado. Balaustradas para a comunhão foram removidas [o autor se refere aos genuflexórios para a recepção do Corpo de Cristo de joelhos e na boca - nota nossa]. Os fiéis foram instruídos a não mais se ajoelharem quando recebessem a Santa Comunhão, mas ficarem de pé como homens e mulheres livres, e a receberam o Pão da Comunhão e o Cálice do Vinho da Comunhão em suas mãos democráticas. Em muitas igrejas, membros da Congregação eram imediatamente expulsos por "perturbação pública da adoração" se tivessem a ousadia de genuflectir ou, ainda pior, ajoelhar-se, para a Santa Comunhão do novo rito. A polícia era chamada para expulsar os infratores mais graves, aqueles que se recusavam a 'cooperar' e se recusavam a sair.

Fora das igrejas e das capelas, missais romanos, cartões de comunicação de missas fúnebres, livros de orações, crucifixos, as vestes dos altares, paramentos da missa, balaustradas para a comunhão, até púlpitos, imagens e genuflexórios, bem como as estações da Via Sacra eram atirados às fogueiras e depósitos de lixo das cidades, ou vendidos em leilões públicos onde decoradores de interiores os arrematavam a preços irrisórios e lançavam um "estilo eclesiástico" na decoração de apartamentos e de casas elegantes dos subúrbios. Um altar de carvalho esculpido dava uma "penteadeira" tão original...!

A reação a isso tudo não foi apenas imediata; foi turbulenta e constante. Mas não pense, por um minuto sequer, que foi uma reação de horror, de inquietação, de insistência para que se acabasse com a barbaridade que as coisas sacras e sacrossantas fossem restauradas. Muito pelo contrário.

O comparecimento à missa diminuiu imediatamente, e em dez anos havia caído 30% nos Estados Unidos, 60% na França e na Holanda, 50% na Itália, 20% na Inglaterra e no País de Gales. Outros dez anos, e 85% de todos os católicos da França, Espanha, Itália e Holanda nunca foram à missa. A população dos seminários teve queda vertical. Na Holanda, 2000 padres e 5000 irmãos e freiras religiosas abandonaram os seus ministérios. Existe, hoje, 1986, em média um novo padre ordenado por ano naquele país, onde antes havia uma média de dez. Quedas semelhantes foram registradas em outros países. Nos doze anos de 1965 a 1977, cerca de doze a quatorze mil sacerdotes no mundo inteiro solicitaram dispensa dos seus deveres, ou simplesmente foram embora. Sessenta mil freiras deixaram seus conventos entre 1966 a 1983. A Igreja Católica nunca sofrera perdas assim tão devastadoras num espaço de tempo tão curto.

Muitas freiras professoras simplesmente se desfizeram de seus hábitos religiosos, compraram logo trajes leigos, cosméticos e jóias e deram adeus aos bispos locais que até então tinham sido seus superiores, declararam-se constituídas como educadoras americanas comuns, decentes e íntegras, e seguiram suas carreiras. O número de confissões, comunhões e crismas diminuiu, no mundo inteiro a cada ano, de uma média de 60% de católicos praticantes em 1965 para um número situado nalgum ponto entre 25% e 30% em 1983. As conversões ao catolicismo diminuíram dois terços. (idem à anterior)

Aqueles que ficaram - clérigos e leigos - não estavam satisfeitos com a tentativa de abolição da Missa Romana tradicional, com as alterações gerais do ritual e da adoração católica, e com a nova liberdade de lançar dúvidas sobre todos os dogmas. Aquilo não era o bastante. Elevou-se um clamor em favor do uso de anticoncepcionais, da legalização das relações homossexuais, de tornar o aborto opcional, da atividade sexual pré-marital sob certas condições, do divórcio e do novo casamento dentro da Igreja, de um clero casado , da ordenação de mulheres, de uma rápida união improvisada com as igrejas protestantes, da revolução comunista como meio não apenas de resolver a pobreza endêmica, mas de definir a própria fé.

Passou a ser moda uma nova forma de blasfêmia e sacrilégio. Para os católicos homossexuais, o "discípulo que Jesus amava" adquiriu novo significado. Não tinha aquele discípulo "se apoiado no peito de Jesus" na Última Ceia? Com isso, o amor do homem pelo homem estava consagrado, não? Sacerdotes homossexuais em paramentos cor de alfazema rezavam missa no novo rito para congregações homossexuais.

E se podia ser assim para os homossexuais masculinos, o que dizer do amor da mulher pela mulher? Só as mulheres católica da geração da década de 60 foram suficientemente inteligentes para perceberem que eram vítimas do preconceito sexual eclesiástico; para elas, chegara finalmente o dia do acerto de contas com a antiqüíssima Igreja preconceituosa em matéria de sexo. Surgiu, então, a Igreja feminina - um desses medonhos e populares termos que significava reuniões de mulheres em apartamentos onde Ela (Deus, a Mãe) era adorada e recebia agradecimentos por ter enviado seu Filho (Jesus) pelo poder fertilizante do Espírito Santo (sendo Ela mesma a Mulher "primoprimordial").

Apoiando essa variegada plêiade de mudanças e mudadores e vira-casacas, lá veio marchando toda uma falange de irrequietos "peritos". Teólogos, filósofos, peritos litúrgicos, "facilitadores", "coordenadores sócio-religiosos", ministros leigos (masculinos e femininos), "diretores de práxis" - fossem quais fossem seus títulos divulgados entre a massa, estavam todos procurando duas coisas: convertidos à nova teologia e briga com os maltratados tradicionalistas que estavam em retirada. Um dilúvio de publicações - livros, artigos em revistas, novas revistas, boletins, cartas-circulares, planos, programas e resumos - inundou o mercado católico popular. Os "peritos" questionavam e "reinterpretavam" todo dogma e toda crença, tradicional e universalmente esposados pelos católicos. Tudo, na verdade, e em especial as coisas difíceis da fé católica romana - penitência, castidade, jejum, obediência, submissão - ficou sujeito a uma modificação violenta, da noite para o dia."

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